FILOSOFANDO O COTIDIANO

O autor define com mestria o significado da FILOSOFIA ESPÍRITA vigente no atual estágio evolutivo em que nos encontramos.
Acompanhe conosco esse processo de encontros e desafios, que definem o Ser em busca de si mesmo através de ações que convergem a favor da paz e da Harmonia.

Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)

Base Estrutural do ©PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.

7 de setembro de 2015

A razão de ser do Espiritismo


 
SÓCRATES - Inspirador do Projeto Estudos Filosóficos Espíritas
(Escultura à entrada do Museu de Atenas)
 "Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações; quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional, para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas, traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados.
Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.
Logo depois, no Collège de France, proclamando serJesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem.
Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.
As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos, fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.
Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.
Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.
O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficaz maneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.
Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de ideias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinquentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.
O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam...
Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqui, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá.
Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte.
Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.
Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas sequelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.
A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro."
Victor Hugo
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França.
Publicado no Jornal Mundo Espírita de novembro de 2001.
 
 

6 de setembro de 2015

O NOVO EXODO – REFLEXÕES MOTIVADAS POR AYLAN

www.mamamia.com.au
 


Há alguns anos tive minha própria experiência  com refugiados de guerra provenientes do Oriente Médio.  Uma amiga, minha vizinha e voluntária no plantão fraterno de nossa casa espírita, procurou-me e relatou a tragédia de uma família que estava hospedada três andares abaixo do meu, no prédio onde residíamos: dois casais com filhos ainda bebês, um comerciante e seu irmão, advogado e jornalista, todos provenientes do Líbano, precisavam de aulas de português.  

Todos tinham fugido da guerra em seu país, hoje parcialmente dominado pelo Hamas. Quando de minha estada em Israel, pude sentir o outro lado dessa história, à parte os motivos políticos, sempre insanos e cruéis infelizmente em sua maior parte, os israelenses sabem que em seu país a violência e o medo são latentes, já que estão cercados por outros países de maioria muçulmana, muitos hostis, e fazem fronteira com a Síria, hoje dramaticamente num processo talvez irreversível de auto destruição.


Fui convidada por eles, fluentes em francês e inglês, a ensinar o português para as esposas e o irmão deles, o advogado jornalista. Todos muito jovens haviam deixado suas famílias, casas, pertences, amigos, empregos, lembranças caras à sua existência.

Lembro-me de nossa primeira reunião para traçarmos os parâmetros iniciais para o ensino de nosso idioma: impossível não se comover diante da tragédia daquele grupo, que me olhava com olhares de expectativa (afinal, quem era aquela brasileira?), mas de esperança (nos sorrisos tímidos), pois naquele momento eu representava o início de uma convivência com a comunidade de nosso país. E conversamos sobre coisas simples da vida, até que a pergunta surgiu: qual a minha religião? Respondi que seguia o Espiritismo, uma doutrina filosófica com desdobramentos éticos e morais com base no Evangelho de Jesus e com raízes em Sócrates e Platão. Os olhos do advogado jornalista brilharam e começou a dizer que a religião deles, eram todos drusos, também tinha raízes em Platão e que considerava Jesus de Nazaré como um grande profeta da Paz. Foi o elo que faltava. Daí em diante, estabelecemos um contato que foi além do relacionamento professora-alunos, pois a confiança passou a fazer parte de nossas aulas. Pude sentir novamente na alma o que os Espíritos sempre disseram acerca da fraternidade universal, pois ali, naquela sala, onde as jovens faziam questão de servir-me café à moda oriental, numa aula de português, tinha diante de mim olhos de esperança, pois se o Brasil representava naquele momento um reinício de vida quase normal, a tristeza de ter que deixar tudo para trás permanecia latente no ambiente – e principalmente o advogado jornalista que pretendia voltar numa insistência melancólica diante do improvável.

Tempos depois o restante da família conseguiu se estabelecer definitivamente no país e queria que todos estivessem juntos.

A experiência pessoal de encontrar pessoas com anseios, expectativas positivas apesar da extrema gravidade de sua situação, portadoras de um excelente nível intelectual e que respeitavam as religiões pois, para minha  surpresa, nelas viam um acesso a uma relação mais humana para todos foi gratificante. Ficou a lembrança de boas conversas, sempre através do ensino do português,  de uma troca cultural rica de conteúdos e de esperança, e ainda de interesse por aquele desconhecido Espiritismo que para eles significou um belo caminho à fraternidade universal.

E tudo isso me veio à lembrança quando comecei a aprofundar-me na tragédia humanitária que hoje o mundo assiste e o continente europeu tenta enfrentar, e, diga-se de várias maneiras.

Não vou deter-me aqui a reproduzir o que a imprensa tem fartamente informado. Mas detenho-me na pessoa da criança flagelada pela insanidade de um país hoje semidestruído pela barbárie. Aylan, sacrificado como o filho de Abraão, porém sem a oportunidade de retornar à convivência paterna, pois o deus-homem não conhece compaixão, ficará em nossas lembranças, novo arquétipo de nosso inconsciente coletivo, inserto no mito do mártir que se sacrifica mesmo sem ter a consciência do sacrifício.

A morte de Aylan é uma imensa bofetada no rosto de todos aqueles que negam a si próprios a sua verdadeira natureza, humana e espiritual e destinada à consciência regenerada para o Bem supremo.   

Porém, a morte de Aylan inspira hoje o espírito solidário de alemães e austríacos, a essa verdadeira “invasão” de muçulmanos (aliás prevista por uma médium em 1996 durante um evento sobre Mediunidade numa grande casa espírita em São Paulo), porém, “invasão” esta motivada não pelas razões políticas do passado, mas pela tragédia da guerra e do ódio hoje vigentes naquela parte do mundo.  

Interessante notar que a Europa, histórica, militar e politicamente co-responsável por guerras monumentais locais e mundiais ao longo de sua longa trajetória, hoje é convidada  a – quem sabe – resgatar pelo amor e pela solidariedade os fatos dolorosos de seu passado remoto e recente.

Logicamente não podemos pensar ingenuamente sobre todo esse processo, já que ele implica em múltiplas faces de continuidade, mas não podemos deixar de supor que este pode ser o começo de uma nova civilização europeia, a partir da união entre Leste e Oeste, Ocidente e Oriente, que ao longo dos milênios foram atores de guerras fratricidas por motivos religiosos ou políticos.   

Mesclada com outras naturezas, outros gens, outras culturas, outras falas, outros idiomas, outras filosofias, outros modos de pensar e ver a vida, este pode ser  apenas o começo de uma nova existência para os que chegam perseguidos pela tragédia, e para os que lá residem à parte do processo traumático atual, mas não distantes da convivência com a guerra que sempre perseguiu o povo europeu.

Enquanto isso, para nós brasileiros, separados por um oceano desse drama também acolhemos outras vítimas, além daquelas oriundas das guerras fratricidas, as dos flagelos naturais, que igualmente precisam de nossa solidariedade e apoio.

Enquanto isso também, continuamos com nossa luta a favor da ética e da moral em nossa já combalida e decadente política nacional.  Lutamos contra a crise econômica que já bate às nossas portas. Lutamos contra a criminalidade e as injustiças, lutamos contra o aquecimento global e a matança indiscriminada de nossas fauna e flora.

Triste e melancólico final de ciclo evolutivo... Colhemos o que plantamos, porém sem desanimar de plantar novas sementes com base na ética e na moral de Jesus, e cuidar dos frutos verdes que já despontam entre nós, e que nos sustentam a esperança de esperançar, porém ativa, nunca acomodada ou na expectativa de que os Bons Espíritos façam o que nos compete fazer.    

Sonia Theodoro da Silva, bacharelanda em Filosofia.          

EFE Filosofia Espírita

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EFE- Educação Mediúnica com base na Filosofia Espírita

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