FILOSOFANDO O COTIDIANO

O autor define com mestria o significado da FILOSOFIA ESPÍRITA vigente no atual estágio evolutivo em que nos encontramos.
Acompanhe conosco esse processo de encontros e desafios, que definem o Ser em busca de si mesmo através de ações que convergem a favor da paz e da Harmonia.

Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)

Base Estrutural do ©PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.

24 de outubro de 2010

FENÔMENO, FÉ E RAZÃO


Ao relermos Paulo e Estêvão, deparamo-nos com um episódio dos mais representativos para a perpetuidade do Cristianismo nascente. Paulo de Tarso, impressionado com a penetração dos ensinos ritualísticos judaizantes na igreja de Jerusalém, não obstante o seu trabalho de amor ao próximo, num diálogo memorável com Simão Pedro, questiona-o, afirmando que não supunha que a política abominável das sinagogas houvesse invadido totalmente a igreja de Jerusalém. Ao que Pedro lhe responde, dizendo que também não concordava com a presente situação; ao invés, pensara em afastar-se do núcleo transferindo-se a outra comunidade que melhor preservasse os ensinos de Jesus. Foi quando após as suas orações, percebera a presença de alguém, que se aproximava devagar; a porta se abrira, e, para sua surpresa, era o Mestre! Seu rosto era o mesmo dos formosos dias de Tiberíades. Fitou-o, grave e terno, e falou: Pedro, atende aos filhos do Calvário, antes de pensar nos teus caprichos!

Era um eloquente apelo à razão do continuador de Sua obra – jamais Pedro pensara desta maneira. O formalismo das religiões institucionalizadas estava penetrando no raciocínio do apóstolo, que, insatisfeito pelo desrespeito ao Evangelho de Jesus, tomara a si o cajado da defesa de Seus ensinos, e pensara em abandonar a tarefa que lhe coubera.
Explicitada a situação da igreja à Paulo, que, além do sincretismo em vias de realização, também penava com a falta de recursos monetários, este se revela o dispenseiro providencial e necessário à manutenção do núcleo cristão, em vias de tornar-se mais uma seita judaica. Até o fim de seus dias, o Apóstolo dos gentios realizaria a coleta necessária à manutenção dos trabalhos que Jerusalém realizava em prol dos necessitados e aflitos, que procuravam, às centenas, os préstimos dos discípulos amados.
Apesar das providências, o Cristianismo buscou outras plagas, e, do Oriente pejado de cerimônias ritualísticas, alça vôo, e, nas mãos do Apóstolo da Razão, busca no Ocidente, a sua solidificação.
São inúmeros os exemplos de Paulo nesse sentido. Com os gentios, mas, sobretudo, com Paulo de Tarso, os ensinos de Jesus, já formatados como corpo de doutrina, a partir daquele e de outros momentos significativos, separam, definitivamente, Judaísmo e Cristianismo. Eram os primeiros passos da Razão no campo da Fé, que já haviam tido seus albores com Pitágoras, no século sexto.

Jesus, que apelava à Razão do homem, ao dizer Amai os vossos inimigos; Guardai-vos dos falsos profetas que por fora se disfarçam de ovelhas e que por dentro são lobos roubadores; Há muitas moradas na Casa de meu Pai; Há muitos chamados, mas pouco escolhidos; que se utilizava do raciocínio indutivo e da definição universal, tal como Sócrates o fizera, ao questionar o logos das palavras, fazendo com que os homens atendessem à valorização da verdade em sua pura realidade, onde quer que fosse e a todos os momentos.
Atributos potenciais do Espírito, Fé e Razão se atualizam e desenvolvem no decurso da Vida, em etapas sucessivas; a primeira, por uma natural manifestação íntima da alma; a segunda, pela necessidade de solucionar os problemas, às vezes aflitivos da existência, frente à preservação da espécie e da própria vida. Assim refletidas, a Razão se consolida tranquilamente, e a Fé se dignifica na convivência, ambas como que unidas em dimensões aparentemente opostas, porém unificadas com um mesmo propósito.
Embora o Cristianismo tenha sido obstado em sua natural manifestação, como fruto natural do desenvolvimento da fé raciocinada, é somente com o Espiritismo que ela se consolida. O Cristianismo, de acordo com José Herculano Pires, foi transformado em novo mito, e suas expressões alegóricas, empregadas sempre num sentido racional, esclarecedor, converteram-se em dogmas de fé: o cordeiro que tira os pecados do mundo, a transubstanciação do pão e do vinho em corpo e sangue do Cristo, sincretismos de seitas judaicas e pagãs, foram os primeiros passos para transformar Jesus, Espírito Puro pela hierarquia moral, universal, em missão entre os homens, em Jesus Cristo, Deus encarnado.

Em 1854, um pedagogo francês, estudioso do magnetismo, respeitado pela comunidade científica da época pelos seus métodos e critério, entabulou um diálogo com o Sr. Fortier, magnetizador, que o levou a crer que por trás dos fenomenos abundantes que ocupavam as manchetes dos jornais, havia uma inteligência, pois, mais extraordinário do que fazer uma mesa girar e andar, era fazê-la falar. Mas, o raciocínio do Prof. Rivail, era lógico, pois pautado na dialética socratiana, desenvolvido pelo método pestalozziano; sua mente, perscrutadora, era disciplinada no estudo constante e na pesquisa habitual. Jamais aceitava algo que não fosse comprovadamente de cunho universal.
São suas as palavras: Eu compreendia a possibilidade do movimento por uma força mecânica, mas, ignorando a causa e a lei do fenômeno, parecia-me absurdo atribuir inteligência a uma coisa material. Coloquei-me na posição dos incrédulos dos nossos dias, que negam, porque não podem compreender os fatos. No ano seguinte, em 1855, encontrou o Sr. Carlotti, amigo de longa data que, com o entusiasmo que despertam as idéias novas, falou-lhe dos fenômenos que o preocupavam. Apesar da estima que nutria por seu amigo, desconfiava da sua exaltação. Foi alguns meses depois, em casa da Sra. Roger, que encontrou o Sr. Patier e a Sra. Plainemaison, que lhe falaram do mesmo assunto, mas em outro tom, isento de entusiasmo, mas que lhe produziu viva impressão.
Estavam abertas as portas para a pesquisa criteriosa do fenômeno mediúnico. Posteriormente, foi com a família Baudin, que fez os primeiros estudos sérios sobre Espiritismo, não tanto pelas revelações, como pelas observações. Aplicou a esta ciência, o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e observava atentamente, comparando e deduzindo-lhe as consequências, dos efeitos procurando elevar-se às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos, não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão.

Prossegue Allan Kardec: Procedi com os Espíritos como teria feito com os homens; considerei-os, desde o menor até o maior, como elementos de instrução e não como reveladores predestinados. Tais foram as disposições com que empreendi e com que sempre segui os estudos espíritas: observar, comparar e julgar, essa foi a regra invariável que me impus. Foi desta forma que o Codificador, posteriormente adotando o pseudônimo que o caracterizaria como apenas o compilador de tais estudos, pois, segundo ele próprio, jamais seu nome deveria aparecer em detrimento do ensino dos Espíritos Superiores, que analisou as respostas destes últimos - no silêncio da meditação -, coordenou-as, classificou-as, formando a primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857.

Foi em 1861 no entanto, que surge O Livro dos Médiuns, contendo, segundo as suas próprias explicações, o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo. Como podemos verificar, é o próprio Allan Kardec quem preceitua as finalidades da obra, que se tornaria o ABC da fenomenologia paranormal. No entanto, o objetivo do Espiritismo não é circunscrever-se à administração da fenomenologia, ou seja, a Doutrina Espírita não é uma doutrina fenomênica com desdobramentos religiosos. É mais uma vez Kardec quem vem em nosso auxílio, quando define o Espiritismo como sendo, ao mesmo tempo, Ciência experimental e Doutrina Filosófica; como Ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos. Como Filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações.

Fica claro que o Codificador desmitificava a relação com o mundo invisível, trazendo-o à luz dos esclarecimentos lógicos e racionais, e elencando os critérios para uma análise crítica, pautada na lógica e na razão que somente o conhecimento profundo de seus objetivos corrobora.
Aos médiuns, fica a recomendação de Kardec: o espírita culto foge do entusiasmo que cega, e observa tudo fria e calmamente: este é um meio de furtar-se a ser joguete de ilusões e mistificações.

Bibliografia: Allan Kardec: O Livro dos Médiuns, O Que é o Espiritismo; Emmanuel/Francisco C.Xavier, Paulo e Estêvão; J.Herculano Pires, Introdução à Filosofia Espírita.

O PODER DA PALAVRA


Encontramos em Provérbios, 6:16-19: “Estas seis coisas o Senhor detesta, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente; o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal; a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.”

Analisando os dizeres bíblicos, vemos que o rigor neles exposto, falava diretamente às mentes ainda incipientes do Bem e do amor ao próximo.Em nossos dias, porém, o Espiritismo já nos facultou a possibilidade de observarmos as nossas imperfeições, quando, ao responder a Kardec sobre o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal, os Espíritos Superiores nos garantiram que o Conhece-te a ti mesmo, seria a fórmula eficaz. Por outro lado, a preocupação geral nos meios profissionais e até mesmo na mídia, que se retrata na intermediação dos ombudsmen, coloca a questão das relações humanas sob condições de extrema importância até para o desenvolvimento das empresas e de indivíduos.
Mas é na literatura universal, que muitas vezes encontramos exemplos práticos do cotidiano das pessoas. Refiro-me ao drama “Otelo”, de William Shakespeare, autor que, com rara perspicácia, soube, em sua época, traduzir na dramaturgia, os deslizes naturais provenientes das imperfeições humanas.A ação se passa no século XV. Otelo, general mouro do exército de Veneza, volta triunfante para casa, após derrotar os muçulmanos. Um de seus adjuntos, Iago, procura comprometer um rival, Cassio, forjando contra ele a acusação de manter um caso amoroso com Desdemona. Ela é mulher de Otelo. Este, por sua vez, deixa-se corroer pela dúvida, pela depressão obsessiva. A suposta afronta à sua honra precisa ser vingada. E é induzido pela palavra mordaz de Iago, que Otelo arquiteta e executa a morte de sua mulher, com as próprias mãos. Mas, como a verdade sempre vem à tona, Otelo fica sabendo da trama movida por seu lugar-tenente. Muito tarde, porém, para remediar o mal que praticara, instrumentalizado pelos sentimentos de vingança. A técnica utilizada por Iago surtira seu efeito. Agindo com a experiência de quem tem o feeling apurado das fraquezas humanas, o personagem vai incutindo, veladamente, palavras e sentimentos na mente e no coração de Otelo.

Interessante observar-se a mudança gradativa que vai se operando neste último, que, de homem firme e categórico em suas ações e palavras, vai se tornando depressivo, opresso em suas manifestações emotivas, desconfiado, afastando-se do convívio com os amigos, dando oportunidade a que sentimentos malsãos se avolumem em seu íntimo. Como movido por uma força invisível, Iago vai prosseguindo em seu trabalho, sorrateiro, sagaz, personificando a analogia de Aristóteles, que diz que os maldizentes aguçam as suas línguas como a língua das serpentes, pois, à semelhança do órgão animal, que tem duas pontas, sendo fendida ao meio, também a língua daqueles fere e envenena, de uma só vez, o coração daquele com quem está se falando e a reputação daquele sobre quem se conversa.
Uma vez tocado o coração de seu senhor, Iago torna-se hábil no transformar situações simples em cenas de cruel comprometimento para seus participantes. É assim, que um simples diálogo entre Cassio e Desdemona, converte-se em secretas juras de amor; um encontro casual, em compromisso previamente marcado; um objeto caído ao chão, um olhar, um cumprimento, em senhas para encontros furtivos, em paixão mal contida, em ensejos para a realização de algo previamente planejado e obscuro. E Otelo vai sendo enredado nas artimanhas da mente algo diabólica, algo traquinas de Iago.

Semelhantemente, vemos os personagens de Shakespeare extremamente atuais e vivos hoje como ontem, pois o século do escritor, se distanciado no tempo, não o é em termos de crescimento moral para o homem, que ainda se enleia em sentimentos dessa natureza. Os que não conseguem dominar a própria língua, certamente são portadores de conflitos íntimos, nem sempre conscientes; pessoas que vivem esmagadas por sofrimentos, angústias e amarguras que impedem o reconhecimento dos valores existentes na vida dos seus semelhantes.
São de Joanna de Ângelis, sábia perscrutadora da alma humana, as seguintes palavras: “O silêncio que fazem a propósito das tuas boas ações e a forma como divulgam as tuas imperfeições, constituem fenômeno humano compreensível. Os companheiros nem sempre estão dispostos a ajudar no anonimato. Vendo o teu aparente êxito, deixam-se pinçar pelos sentimentos negativos da inveja e do despeito, passando a ignorar-te ou a desconsiderar os teus feitos positivos. Eles nada sabem a respeito dos teus testemunhos e sofrimentos, dissimulados pela dedicação ao bem. Ao invés de serem participantes da tua realização, competem, magoados, sem desejar oferecer o contributo da renúncia e do sacrifício pessoal. Convidados à abnegação e ante as provas normais que lhes chegam, desertam, queixam-se e maldizem, entregando-se ao desânimo e à revolta...
Os excessos, a má conduta, os comportamentos arbitrários, afligem também aqueles que os movimentam ou se lhes submetem. É o sofrimento em decorrência do mal.
Natural, portanto, que sofras, pelo bem, ainda marginalizado, com poucos interessados reais em favor da sua propagação.
Não estranhes, desse modo, a conduta daqueles que combatem o bem em ti, o teu lado bom, através do silêncio bem mantido, como se estivessem em conspiração contínua.
Além disso, trabalhas, sem qualquer dúvida, para o Bem e não é importante que se saiba o quanto fazes, mas que Jesus, que te inspira e conduz, tenha conhecimento.
Segue, pois, em silêncio e sem mágoa, não estranhando a atitude dos beneficiários que te esquecem, nem daqueles que te ignoram.”


Um novo modo de pensar e de agir, na vida de muitas pessoas, está a depender de alguém que tenha palavras impregnadas de amor. No íntimo do indivíduo, existe o desejo de ouvir palavras de acolhimento, de compreensão, de solidariedade e de apoio, em clima de simpatia e de confiança. Nem faltam pessoas que apreciam uma conversação útil e proveitosa.
Daí a necessidade e a importância de se fazer sempre bom uso da palavra. Diz a lenda que uma pessoa foi contar a um guru que havia falado dos outros de um modo irresponsável e superficial e perguntou o que deveria fazer para reparar o seu erro. O guru, muito sábio, respondeu: “Pegue um saco cheio de penas e solte ao vento; depois de alguns dias volte aqui”. A pessoa fez como lhe havia ordenado. Ao cabo de alguns dias, regressou, ansiosa pela resposta do sábio: “Você será capaz de recolher todas as penas que soltou ao vento?” E deixou que ela tirasse as conclusões. Em algumas ocasiões, as palavras são como penas ao vento; em outras, ferem como o veneno da serpente, mas, infelizmente, às vezes acontece como a triste história de Otelo e Desdemona. Gandhi dizia que o amor e a verdade representam duas faces de uma mesma moeda e, que, por meio dessas duas forças, pode-se conquistar o mundo inteiro. É a lógica do pensamento de Jesus do amar ao próximo como a si mesmo. Quem não ama a si próprio, evidentemente não terá conteúdo substancial para concretizar o amor ao próximo. Estamos vivendo momentos graves, em termos de evolução moral na Terra. Esta civilização, que escolheu evoluir pela dor, tem, contudo, toda a condição de reverter a situação. Bastaria que ouvíssemos as recomendações do Mestre da Galiléia, que de tão singelas e simples, foram recusadas e obstadas em sua divulgação. Mas, a Verdade é portadora de uma força de atração tão forte, que fará com que o Homem, tal como no Mito da Caverna de Platão, saia em busca da sua Luz. Então, ela o tornará partícipe de esferas vibracionais nunca dantes imaginadas; pois na Terra, não existem palavras para descrevê-las: por isso elas são transitórias...
Bibliografia: Luz de Esperança, Joanna de Ângelis/Divaldo P.Franco; Othelo, William Shakespeare.

EFE Filosofia Espírita

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